Seu Almado e Dona Estouvada 2019
Por Lúcia Navarro – Literatura – Produção do Grupo de Leitura e Escrita
Ele era uma alma boa, ou melhor, se dizia bom. Fazia tudo pelos outros, mal pensava em si. Ser de leite, alma de rosas, difícil de apalpar, pura luz, odor de mel.
Ela era feroz, quase um bicho. Refugava. Pés na terra, dentes em riste, ríspida e vermelha como o sol. Na verdade não era rosada e sim vestia vestes cor da terra e do sangue.
Seu Almado e Dona Estouvada haviam se conhecido nas vizinhanças do sertão, lá onde a mula perdeu as botas, o saci corre para trás e a lagoa é de agua cristalina.
Um morava no alto e o outro lá no bem embaixo. Céu azul por trás da luz que emanava do Seu Almado. Terra seca, poeira em círculos, na caverna-toca de Dna Estouvada. Nesse lugar nenhum que existe prá lá do não sei onde. Foi de sopetão, nem se viram, mas se acharam em um só esbarrão.
-Nossa como você é translúcido, mal consigo pegar! Te alcançar!
-Estou à caminho de Noigandres, sabe onde fica?
-He,he – ri Dna Estouvada. Sei sim, mas esse aí não é fácil de achar. Vem quando quer e não aparece para qualquer um.
-Mas não procuro alguém, procuro só esse lugar.
Dna Estouvada fez que não entendeu o comentário, mas entendeu melhor que muitos daquelas bandas.